Nesta
seção você saberá:
-
Quais são as principais malformações congênitas
naso-sinusais ?
-
Quais são os sintomas ?
-
Quais são os tratamentos ?
-
E mais...
Quais
as principais malformações congênitas
naso-sinusais ?
Dentre
as várias malformações
congênitas naso-sinusais,
a atresia
coanal, os cistos dermóides, os gliomas e as
encefaloceles são as mais comuns, acometendo
aproximadamente 1 a cada 20 a 40 mil nascimentos.
Porém, as conseqüências de um diagnóstico tardio
e as complexidades envolvidas no cuidado de crianças
com estas malformações congênitas fazem destas
alterações muito importantes, principalmente para
serem consideradas como potenciais diagnósticos
diferenciais de condições relativamente mais
comuns, como obstrução
nasal.
A
obstrução nasal em crianças pode ter várias
etiologias, sendo as mais comuns rinites e
hipertrofia adenoideana, condições que, apesar de
requererem cuidados especiais, não apresentam
potenciais complicações graves, tais como
meningite e abscesso cerebral.
Atualmente,
a cirurgia endoscópica nasal pode ser realizada com
segurança em crianças, inclusive neonatos, para o
tratamento de alterações complexas, tais como
atresia coanal, celulite orbitária e encefaloceles.
Entretanto, os pacientes pediátricos requerem
preparação meticulosa, instrumentos especiais e
cuidados peri e pós-operatórios especializados.
Dentre
os cuidados pré-operatórios deve-se observar
quaisquer outras alterações morfo-fisiológicas,
principalmente porque algumas malformações nasais
podem ser manifestações de síndromes complexas
que podem trazer consigo malformações em outros
locais do corpo, tais como rim, órgãos genitais,
dentre outros.
Tabela
1:
Principal lista de diagnósticos diferenciais de malformações
congênitas nasais:
|
Cisto dermóide
|
Glioma nasal
|
Encefaloceles
|
Cisto de Tornwaldt
|
Atresia coanal
|
Obstrução ou cistos do ducto
lacrimo-nasal
|
Estenose da abertura piriforme
|
Fenda palatina
|
Principais
malformações naso-sinusais:
Cisto
dermóide:
Os
cistos dermóides
são cavidades ou cistos de linha média,
que podem ser infectados ou não, preenchidos com
epitélio de vários tipos, tais como folículos
capilares, glândulas sebáceas, dentre outros e que
podem estar localizados da glabela, na região inferior
à testa, ate a columela nasal, ou seja, a entrada do
nariz.
Estes
cistos constituem as malformações nasais congênitas
mais comuns. Os cistos dermóides
nasais podem surgir de restos de tecidos epiteliais
remanescentes da ectoderme, ou simplesmente por
falha das extensões ectodermais no septo nasal no
feto.
Ligações
com a dura-máter,
membrana que envolve os tecidos do sistema nervoso, também
podem existir, criando uma comunicação indesejada
entre a pele
e a dura-máter. Os cistos dermóides podem estar
associados a outras síndromes
como Microssomia hemi-facial e Síndrome
Oro-Facial-Digital do tipo I, que pode também
apresentar alterações vertebrais, ânus
imperfurado, displasia renal, dentre outras. Podem
também estar associados com outras anormalidades
congênitas tais como: atresia aural, albinismo, hipertelorismo, fenda palatina, anormalidades
cardíacas, genitais e cerebrais, dentre outras.
Apresentação
clínica e tratamento:
Os
cistos dermóides geralmente ocorrem na linha
média, mais comumente no dorso
nasal, na forma de massa
ou discreta elevação. Estas lesões podem se
manifestar em qualquer lugar da base da columela à
glabela. Podem ser únicos ou múltiplos, podendo se
manifestar como massa nasal ou fístula. Eles
geralmente são diferenciados de outras malformações
congênitas pela presença de cabelo ou material sebáceo
(podendo apresentar ou não drenagem de secreções).
Tipicamente eles se manifestam nos primeiros meses
de vida e são diagnosticados, em sua grande
maioria, no primeiro
ano de vida.
Tabela
2:
Principais características do cisto dermóide (exame físico)
|
Massa não pulsátil, firme, não
compressível, no dorso nasal
|
Não apresenta transiluminação
|
Pode apresentar cabelos
|
Pode apresentar secreção intermitente
de material sebáceo ou pus
|
Massa crescente, que vai alargando
dorso nasal
|
Episódios de meningite (suspeitar em
extensão intracraniana)
|
Mudanças de comportamento (suspeitar
em abscesso do lobo frontal)
|
Os
cistos dermóides podem apresentar extensão
intracraniana e devem ser diferenciados de
encefaloceles, baseados principalmente na falta de
transiluminação e inabilidade de crescer com o
choro.
O
diagnóstico com tomografia computadorizada e ressonância
magnética é essencial. Biópsia é formalmente
contra-indicada. Se houver infecção local,
geralmente esta é limitada ao cisto ou seu trato,
entretando há casos descritos de complicações
como celulite orbitária e periorbitária,
osteomielite, meningite e, até mesmo abscesso
cerebral.
Alguns
achados radiológicos devem ser notados, como presença
de alargamento fusiforme no septo e válvula nasais,
septo bífido, destruição glabelar, proliferação
óssea acima do nível do cisto e espaços císticos
etmoidais. Alargamento do forame cego, com
envolvimento da crista galli, pode significar extensão
intracraniana. A tomografia computadorizada revela o
defeito ósseo e a ressonância magnética pode
diferenciar o elemento dermóide do tecido cerebral,
além de verificar a comunicação com material do
sistema nervoso central.
O
tratamento definitivo é cirúrgico e envolve a excisão completa do cisto ou
extensão e tem basicamente 3 finalidades: cosmético,
evitar infecções ou complicações de infecções
locais e evitar complicações do sistema nervoso
central, como meningites e abscesso cerebral.
Se
houver envolvimento intracraniano, abordagens endoscópicas
endonasais ou combinadas (crânio-faciais), com equipe
multidisciplinar, composta por
Otorrinolaringologista, Neurocirurgião e Cirurgião
Crânio-Maxilo-Facial, são indicadas. A recorrência
destas lesões usualmente é relacionada com excisão
incompleta, ou seja, com remoção incompleta do
cisto.
Gliomas nasais:
Gliomas
são coleções sem cápsula de células gliais
situadas fora do sistema nervoso central. As possíveis
teorias de desenvolvimento incluem as seguintes: seqüestro
de tecido glial do trato olfatório preso durante a
fusão da lâmina cribiforme. Tecidos neurais ectópicos,
encefalocele e fechamento inapropriado do fontículo
frontal, com falha da entrada de mesoderma nesta
região, resultando em formação óssea inadequada.
Tabela 3:
Principais características dos gliomas nasais
|
Os extranasais correspondem à 60% dos casos
|
Não acometem a linha média,
geralmente apresentam-se em áreas mais
laterais
|
Massas firmes, não compressíveis, elásticas,
com coloração avermelhada coberta por pele
|
Não aumenta de tamanho com choro
|
Não apresenta transiluminação
|
Telangectasias capitares podem ocorrer
na lesão
|
Pode estar associada com hipertelorismo
|
Os intranasais correspondem à 30% dos casos
|
Geralmente localizam-se na parede
lateral do nariz
|
Pode se extender inferiormente até a
entrada nasal.
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Massa firme, polipóide
|
Os gliomas nasais mistos correspondem à 10% dos casos
|
Em geral, 15% dos gliomas têm conexão com a dura-máter
|
Podem apresentar obstrução nasal, epífora,
rinoloquorréia, meningite e epistaxe
|
Podem comumente ser confundidos com pólipos
inflamatórios nasais, porém os gliomas
apresentam consistência mais firme e os pólipos
são raros em menores de 5 anos
|
Apresentação
clínica e tratamento:
Os
gliomas usualmente se apresentam na infância como massa
intranasal, em 30% dos casos, extranasal em 60%
dos casos ou apresentação combinada em 10%.
Diferentemente dos cistos dermóides, estes não
necessariamente se apresentam na linha média.
Os
gliomas formam uma massa não compressível que não
aumenta de tamanho com manobra de Valsalva ou choro.
Gliomas extranasais geralmente ocorrem no nível da
glabela, mas podem estar presentes também em regiões
mais laterais. Gliomas intranasais são associados
com corneto médio ou estruturas mais altas nasais e
podem mimetizar pólipos nasais. Gliomas com
apresentação combinada têm formato típico de
sino. Os gliomas também podem estar conectados à
dura-máter, em 15% dos casos, tanto pelo forame
cego, quanto pelo fontículo. Os pacientes podem
apresentar obstrução nasal unilateral, massa nasal
unilateral, epistaxe ou fístula liquórica.
Distopia
de epicanto ou hipertelorismo é mais comum em lesões
extracraniais. Compressão digital bilateral simultânea
nas veias jugulares internas não leva à distensão
da massa, sinal de Furstenberg.
O
diagnóstico é complementado com tomografias
computadorizadas, que pode mostrar o defeito ósseo
e ressonância magnética, que destaca os
componentes de partes moles. Biópsia não
deve ser realizada e o manejo consiste na ressecção
cirúrgica da massa.
Gliomas
extranasais podem ser abordados utilizando-se técnicas
cirúrgicas tradicionais. Massas intranasais que não
apresentam extensão intracraniana podem ser
abordadas por via externa ou endoscópica. Gliomas
com extensão intracraniana requerem abordagem
multidisciplinar. As recorrências são devidas,
geralmente, à não remoção de todo tecido gliótico.
Encefaloceles:
Encefaloceles
são herniações de tecido neural por defeitos na
base do crânio. Podem conter meninges
(meningoceles), tecido cerebral e meninges
(meningoencefaloceles) ou até mesmo apresentar
comunicações com ventrículos
(meningoencefalocistocele).
Estas
malformações têm etiologia similar aos gliomas. Não
há padrão de história familiar ou genética, porém
há casos de associação com outras doenças, tais
como Sindrome de Ehlers-Danlos ou displasia
fronto-nasal.
Apresentação
clínica e cuidados:
A
maioria das encefaloceles ocorre no crânio, em 20%.
Destas, 15% são nasais podem ser divididas em dois
tipos: sincipitais (60%) e basais (40%). As
formas sincipitais também podem ser subdivididas
nos subtipos:
a)
Nasofrontal:
correspondendo à 40%, que apresenta saída da base
do crânio entre os ossos nasal e frontal;
b)
Nasoetmoidal:
que também corresponde à 40% dos casos, em que a
saída da base do crânio se dá entre o osso e as
cartilagens nasais;
c)
Naso-orbital:
que acomete 20% dos casos, em que a saída da base
do crânio se dá por defeito no processo frontal da
maxilar.
As
encefaloceles sincipitais tipicamente se apresentam
como massas compressíveis sobre a glabela.
Já
as formas basais podem ser subdivididas em:
a)
Trans-etmoidais: em que o defeito na base do crânio
se localiza na lâmina cribiforme;
b)
Esfeno-etmoidais: em que o defeito encontra-se na
placa cribiforme entre as células etmoidais
posteriores e o esfenóide, podendo inclusive
apresentar-se tão inferior quanto na nasofaringe.
c)
Esfeno-orbital: em que a encefalocele entra
na cavidade orbitária pela fissura orbitária
superior, podendo produzir exolftalmia.
d)
Trans-esfenoidal: em que a herniação acontece por
defeito na placa cribiforme posteriormente.
Encefaloceles
basais podem passar desapercebidas, clinicalmente,
por anos. Nas
duas apresentações, sincipital e basal, a massa se
expande com a manobra de Valsalva e pode apresentar
transiluminação, o que pode ajudar na diferenciação
com os gliomas nasais. Os pacientes podem apresentar
história de rinoliquorréia ou meningite
recorrente. Também podem apresentar características
faciais, tais como nariz alargado ou hipertelorismo.
A
tomografia computadorizada e ressonância magnética
são úteis no diagnóstico, sendo a tomografia
importante para avaliação do defeito ósseos e a ressonância para a melhor
visualização, diferenciação e limites das
estruturas herniadas.
A
biópsia é fortemente contra-indicada pelo risco de
infecção e meningite. O tratamento envolve remoção
cirúrgica e reparo do defeito ósseo, que pode ser
feito com cartilagens ou, mais recentemente, apenas
com flaps de mucosa septal, pediculados em
suprimentos vasculares.8,10 Esta correção
pode ser feita através de craniotomia externa ou
abordagem endoscópica trans-nasal.
Conclusão:
Nesta
seção apresentamos algumas malformações congênitas
naso-sinusais. Há várias outras, tais como cisto
de Tornwaldt, obstrução ou cistos do ducto
lacrimo-nasal, estenose da abertura piriforme, fenda
palatina, dentre outros. Apresentamos as outras
malformações naso-sinusais (além de atresia
coanal) mais comuns. É sempre importante levar em
consideração o diagnóstico destas malformações,
especialmente aquelas em que as lesões se
apresentam dentro da cavidade nasal, em pacientes
pediátricos com queixas de obstrução nasal.
Embora
relativamente infreqüentes dentro do universo de
pacientes, o diagnóstico precoce e correto pode vir
a evitar complicações clínicas potencialmente
importantes, tais como meningites e abscessos
cerebrais, além de problemas cirúrgicos, como
curetagem e biópsia indevida destas lesões.
Em
caso de comunicação destas malformações com
sistema nervoso central, é sempre importante o
acompanhamento e cuidados de uma equipe
multidisciplinar, composta além do
Otorrinolaringologista, de Neurocirurgião e Cirurgião
Crânio-Maxilo-Facial.
Maiores
informações: joaoflavioce@hotmail.com
Médico
responsável: Dr. João Flávio Nogueira - CRM(CE)
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Confira
alguns trabalhos publicados por médicos do SINUS
CENTRO sobre algumas destas malformações
congênitas:
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